8/24/2006

TRIBUTO 4

foto: Renato Soares

"_ De que nação és? perguntou-lhe o cavaleiro em guarani.
_Goitacá, respondeu o selvagem erguendo a cabeça com altivez.
_Como te chamas?
_ Peri, filho de Ararê, primeiro de sua tribo"

José de Alencar: O Guarani

8/23/2006

A DIPLOMACIA DO COLONIZADOR

A aversão dos goitacás ao colonizador já seria compreensível pelo instinto natural de defesa do seu território contra o intruso desconhecido, "inimigos superiores em organização e armas"; além disso, cresce a hostilidade do índio diante de bárbaros ataques, dizimando aldeias inteiras, sem perdoar sexo ou idade, e,"dos seus processos escravizadores e suas constantes quebra de palavra". O máximo da crueldade, porém, foi o artifício de disseminar a varíola, espalhando, nos acessos às aldeias, roupas contaminadas pela doença. Alberto Ribeiro Lamego, O Homem e o Brejo.

Detalhe de uma pintura de Albert Eckhout em que o rosto da índia mostra marcas de varíola.

8/13/2006

OS GOITACÁS 6 - ANTROPOFAGIA

"Tragadores de carne humana, de cujos ossos fazem grandes montes em seus terreiros"... " e disto se jactam; e quanto maior for a ruma das ossadas dos que mataram e comeram, tanto maior fica sendo a nobreza de cada qual das casas. Estes são seus brasões de suas proezas."
Simão de Vasconcelos
"Não costuma esta gente pelejar no mato, mas em campo descoberto, nem são muito amigos de comer carne humana como o gentio atrás."
Gabriel Soares
Em 1945, primeira edição de O Homem e o Brejo, Alberto Ribeiro Lamego já afirmava:
"Ajuizar a cultura e o estágio evolutivo dos ameríndios pela antropofagia, é hoje inadmissível, porque o hábito era geral."...
  • "Não tem igualmente, atenuantes, a voracidade canibalesca dos índios norte-americanos."
  • "Se os não imitavam os ferozes Peles-Vermelhas da planície (...) é que ali tinham afortunadamente, uma dispensa inesgotável nos milhões de bisontes das savanas"
  • "Mais espantosa, porém, que tais ocorrências entre os índios selvagens, era a ferocidade ingênita entre os civilizados na região do México ao Peru."
  • "Os sacrifícios druídicos nas matas da Gália."
  • "Não devoramos os semelhantes, talvez, porque temos trigo e carne , até para queimar..."
  • "A antropofagia desapareceu com a crença da assimilação com o corpo do inimigo das suas próprias virtudes guerreiras. Mas sua permanência é tão arraigada no inconsciente, que até nobres religiões ainda a mantém, sublimando-a ritualmente no mais elevado dos sacramentos, que incorpora aos fiéis a carne e o sangue do mesmo Deus.

8/10/2006

TRIBUTO 3

moeda de 100 réis, 1932, IV centenário da colonização

T I B I R I Ç Á"Cacique de uma aldeia de índios Guaianás (ou Guaianã) do planalto de Piratininga. Alguns autores consideram Tibiriçá como da tribo Tupiniquim (da língua Tupi), mas a primeira interpretação é a mais provável, pois os Guaianás, da língua Jê (que os Tupis chamavam Tapuias) predominavam no planalto.Tibiriçá em linguagem Tupi significa Príncipe da Terra e, de fato, Tibiriçá foi líder respeitadíssimo entre os índios e os portugueses.Tibiriçá aliou-se aos portugueses que se haviam estabelecido em Piratininga, e foi batizado pelo padre Anchieta com o nome de Martim Afonso, em homenagem ao donatário da Capitania. Teve papel importante nas lutas dos portugueses contra a chamada "Confederação dos Tamaios", uma ocasional aliança desses índios Tupis do Vale do Paraíba apoiada pelos franceses do Rio de Janeiro. Sua filha Bartira foi batizada com o nome de Isabel e casou-se com João Ramalho".
http://www.dplnumismatica.com.br/brcomemo.html

OS SETE CAPITÃES 2

Através do roteiro de suas viagens, escrito por Maldonado, temos conhecimento de fatos interessantes que se passaram naquela época, como as pazes feitas com os índios goitacás que viviam na Lagoa Feia "o grande mar de água doce, como eles lhe chamavam pelo seu idioma..."; o encontro com náufragos portugueses que viviam numa aldeia goitacá no cabo de São Tomé "Nisto chegaram todos de arcos e flechas, o seu maioral na frente, acompanhados de quatro homens da nossa massa, estes nos saudaram junto com o maioral pelo seu belo modo...Nisto o maioral dirigiu ordem para todos recolherem arcos debaixo do braço e todos bateram palmas e baixaram as cabeças, o maioral se dirigiu ao intérprete, para que nos fizesse saber que não reparássemos em virem de arcos, pois não sabiam se viriam outros que os viessem atacar..."
Se estabelecendo então, nas terras da capitania, os capitães erguem 3 currais a partir de dezembro de 1633, um em Campo-Limpo e dois na ponta de São Tomé.
A partir daí, se espalha pela cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro a fama dos Campos dos Goitacases "em razão de serem as primeiras campinas descobertas, para a criação do cavalar e vacum, segundo as nossas necessidades"...
Alberto Ribeiro lamego, O Homem e o Brejo.

8/06/2006

CAPITANIA DE SÃO TOMÉ 4 / OS SETE CAPITÃES

http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo01/cap_hereditarias.html

Nomeados capitães no fim do século XVI, por bravura ao lutarem contra franceses, tamoios e tupinambás no Rio de Janeiro, Miguel Aires Maldonado,Miguel da Silva Riscado,
Antônio Pinto Pereira, João de Castilho, Gonçalo Correia de Sá, Manuel Correia e Duate Correia, os sete capitães, são portugueses, alguns donos de engenho, que em 1627 requerem e ganham sesmarias na capitania abandonada de São Tomé.
A intenção dos novos donatários é iniciar a pecuária nos Campos dos Goitacás, é Maldonado quem conta:"...achamos nossas casas atrasadas, nossos engenhos sem as canas-de-açucar, tudo paralizado por falta de gado vacum para o trabalho da moagem próxima...tivemos por notícia que se tinha abandonado uma donataria...aonde costumava haver no interior grandes campinas...segundo o que nos informam, desde o rio Macaé, correndo a costa, até o rio que se chama Iguaçu ao norte do Cabo de São Tomé, e para o sertão até o cume das serras..."
Alberto Ribeiro Lamego, O Homem e o Brejo.

8/05/2006

TRIBUTO 2

Pintura de Jorge Afonso, 1506, onde um dos reis magos da Adoração é um índio brasileiro. Possivelmente a primeira representação artística dos naturais da América Portuguesa. Museu da Sé, Viseu, Portugal.

OS GOITACÁS 5


"Não tinham redes nem cama, nem enxoval,porque toda a sua riquesa consistia em seu arco". "Plantam somente legumes, de que se mantêm, e da caça que matam às flechadas". ..."costumam andar no mar nadando, e, em remetendo o tubarão a eles, lhe davam com o pau, que lhe metiam pela garganta com tanta força, que o afogavam e matavam, e o traziam à terra, não para o comerem, para o que se punham em tanto perigo, senão para lhes tirar os dentes, para os engastarem nas pontas das flechas".
Simão de Vasconcelos

OS GOITACÁS 4

" Habitam choças de palha, fundadas cada qual sobre um esteio de pau metido na areia, por mor segurança dos seus contrários,cercados sobretudo de matas espessas, rios e charcos inacessíveis".
"Todo o edifício de suas aldeias vinha a parar em umas choupanas a modo de pombais, fabricadas sobre um só esteio por respeito às águas; estas muito pequenas, cobertas de palhas a que chamam tabuas, com portas tão pequenas, que para entrar nelas era preciso ir de gatinhas."
Simão de Vasconcelos
  • Alberto Ribeiro Lamego destaca a opinião de antropologistas que caracterizam este modo de vida, habitações lacustres, como estágio adiantado na humanidade primitiva, e, ressalta que nenhum outro povo indígena brasileiro do litoral leste foi descrito pelos cronistas com tal característica.
    O Homem e o Brejo

OS GOITACÁS 3

http://florabrasiliensis.cria.org.br/

Andam nus, assim como fazem todos os brasileiros, e trazem os cabelos compridos e pendentes até as nádegas,contra o costume mais ordinário dos
homens desse país, os quais"... "tosuram o cabelo na frente e o cerceiam na nuca".
João de Léry
"Eram comumente gente agigantada, menbruda e forçosa; o cabelo do alto da cabeça rapado a modo de calvos"..."Este gentio tem a cor mais branca"..."e tem diferente linguagem"...Seu modo de viver era pelos campos, caçando as feras; e pelas alagoas, rios e costas do mar pescando o peixe, e em uma e outra arte eram insignes".
Simão de Vasconcelos

CAPITANIA DE SÃO TOMÉ 3

pintura - Rugendas
Após os dois fracassos iniciais, a capitania fica abandonada até o início do século XVII, quando Gil de Góis da Silveira,retomando a iniciativa do pai, funda uma vila de Santa Catarina na foz do rio Itapemirim , no limite setentrional da capitania de São Tomé, já então conhecida como Paraíba do Sul.
Novamente a tragédia se anuncia, quando Gil de Góis adota uma menina índia, que chama de Catarina... "E repete-se o inevitável de quase todo o senhor de engenho ante a graça da mulher estranha". (Alberto R. Lamego)
A esposa espanhola enciumada, aproveitando a ausência do marido, coloca a moça no tronco, e os índios, diante da selavageria do branco, se levantam e destroem a colônia.
Gil de Góis renuncia à capitania em 1619 e esta volta ao domínio da Coroa.

8/04/2006

CAPITANIA DE SÃO TOMÉ 2

pintura- Ostium Fluminis Paraybae, Frans Post

Precisando de recursos para seus empreendimentos na capitania, Pêro viaja a Portugal deixando a Vila da Rainha aos cuidados de um certo Jorge Martins, e na volta, "entrava de novo o donatário pela barra do seu rio Paraíba do Sul, quando logo soube quanto havia sido desastrosa a curta ausência que de sua propriedade fizera o que para vê-la tem cem olhos"..."tudo se desbaratara: os colonos tinham pela maior parte deserdado, e a frente deles o administrador".
carta a D. João III em 29/04/1546

Pêro de Góis recomeça o povoado, "mas um corsário português desembarca em certo ponto da costa, traiçoeiramente prende um chefe goitacá, e, não obstante o resgate obtido, leva-o a uma tribo inimiga, onde o devoram".Os índios atacam o povoado e o destroem, "assim no mar como onde eu estava, se via tudo alevantado para me matarem e a toda a gente"."Fiquei com um olho perdido, de que não vejo, e bem assim perdidos quinze anos nesta terra: porém mais sinto ainda a perda que dei a homens que em mim confiaram".
Alberto Ribeiro Lamego, O Homem e o Brejo.


  • "Em janeiro de 1840 foi desenterrado no sertão de Cacimbas, no município de São João da Barra, uma peça de bronze, " fundida no reinado de D. Manuel, ou com moldes desse tempo, por ter uma esfera armilar abaixo das armas portuguesas "como opina P.de A. Bellegarde. Seria das tomadas a Pêro de Góis?" História Geral do Brasil, Francisco Adolfo de Varnhagen

Esta peça, um canhão, se encontra na praça da rua das palmeiras em São João da Barra.

OS GOITACÁS 2

" A terra é possuída e habitada pelos Goitacases, selvagens tão ferozes e bravios, que não podem viver em paz com outros"..."Quando são apertados e perseguidos por seus inimigos, os quais ainda não os puderam vencer nem domar, andam tão rápidos a pé, e correm tão ligeiros, que não só deste modo evitam o perigo da morte, mas também no exercício da caça apanham na carreira certos animais silvestres, espécies de veados e corças"
João de Léry, História de Uma Viagem Feita à Terra do Brasil, 1578.

OS GOITACÁS 1

pintura - Debret
Da família Puri, os Goitacás (Guaitacá, Guatahar,Ovaitagnasses,Ouetacá, Waitaka, Eutacá, Itacaz, Aitacaz ou Uetacaz) viviam nas planícies e restingas do Norte Fluminense, em áreas próximas ao Cabo de São Tomé, no território entre a Lagoa Feia e a boca do rio Paraíba, subdivididos em quatro grupos: Goitacá-Mopi, Goitacá-Jacoritó, Goitacá-Guassu e Goitacá-Mirim.
De acordo com sua etnologia, o nome goitacá vem da derivação de guaita-guaçú (nadadores grandes), já Bezerra de Menezes o apresenta como oriundo de "gua, aua ou aba"(homem, índio, gente) acrescido a "ytá"(nadar) e "quaa"(saber), "índios nadadores". Uma outra interpretação menos aceita, define-o como "corredor da mata". Temidos pelos colonizadores, foram descritos como "os mais terríveis índios do Brasil, verdadeiros tigres humanos".

Alberto Ribeiro Lamego, O Homem e o Brejo.
http://www.lagosnet.com.br/italia/macstoria2.htm

ÍNDIOS

Foto de Renato Soares - http://www.imagensdobrasil.art.br/
Pensando terem chegado às Indias, os colonizadores europeus chamaram a todos os habitantes das Américas, de índios, ignorando as diferenças lingüístico-culturais e confirmando seu objetivo único: o domínio político, econômico e religioso. As imensas dificuldades de comunicação entre europeus e nativos, pelo não entendimento das línguas faladas, resultou no fato de que seja comum uma sociedade indígena ser conhecida por uma denominação aleatória, além de receberem nomes diferentes em épocas diversas. http://www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm#ORIGEMNo

Classificação etnologica dos índios brasileiros feita por Friedrich von Martius viajante-naturalista
bávaro , que entre 1817 e 1820 percorreu o território brasileiro:
Tupis ou Guaranis, os guerreiros
Jês ou Crãs, os cabeças
Guque ou Coco, os tios
Crens ou Guerens, os velhos
Parecis ou Poragis, os de cima
Goitacás, os corredores da mata
Aruaque ou Aroaquis, a gente da farinha
Lenguas ou Guaicurus, os cavaleiros
Índios com transição para acultura da língua portuguesa

CAPITANIA DE SÃO TOMÉ 1

Pêro de Góis é "um dos moços capitães vindos com Martim Afonso de Souza" na primeira expedição efetiva de colonização do "grande desertão", as terras brasileiras, em 1530. Por bravura em serviços prestados à Coroa, ganha uma capitania de trinta léguas, São Tomé, da qual toma posse em 1538.
Sua primeira tentativa de povoação na terra dos goitacases é a Vila da Rainha, ao sul das margens do rio Manajé (depois Itabopoana, hoje Itabapuana), onde levanta uma capela , um engenho d'água, introduz cabeças de gado, alguma lavoura e canavial, uma casa da Câmara e casebres de taipa.

"Fiz mui boa povoação, com muitos moradores, muita fazenda...estando assim mui contentes com ter a terra muito pacífica..."
Pero de Góis, carta a Martim Ferreira em 18/08/1545

Curioso que a ferocidade do índio seja sempre exaltada, e nessa carta esteja registrado o adjetivo "pacífica" para uma primeira povoação em terra de índio! Faz lembrar o trecho da Carta de Caminha, a respeito da primeira visita de dois índios à caravela de Cabral, quando ao fim do encontro, deitaram-se de costas no tapete, aconchegaram-se e dormiram.

SÍTIO ARQUEOLÓGICO DO CAJU 1


Os fragmentos fotografados são parte dos achados no sítio arqueológico do Caju, Bairro do Caju, Rua XV de Novembro, Campos dos Goytacazes. O sítio foi descoberto em 1968, as escavações aconteceram de 1989 até 1991. Foram recuperadas 17 urnas inteiras, inúmeros esqueletos (enterramentos), artefatos e adornos de concha e osso, e cerca de 10.000 fragmentos de cerâmica. A datação da cerâmica encontrada varia do século V até o século XII da nossa era. É muito difícil associar-se tradições arqueológicas com grupos indígenas atuais, contudo, quase certamente, os índios Goitacazes ocuparam também o sítio, já que no momento da colonização ocupavam a região de Campos.
Equipe de arqueólogos do IAB
http://www.ic.uff.br

TRIBUTO 1

Jogamos tua Língua
Nas covas do silêncio
E os teus sobreviventes
À beira das estradas,
À beira dos viventes ...
Mão-de-obra barata
Nas fazendas e usinas
Nos bordéis e nas fábricas;
Mendigos, periferias
Das cidades sem almas; (...)
E nós te reduzimos
Em Vítimas e Reservas
EmParques zoológicos,
Em Arquivo-poeira
E nós te embreagamos
De cachaça e desprezo (...)
Pedro Casaldálica e Pedro Tierra
Foto de Renato Soares - http://www.imagensdobrasil.art.br/
http://www.imaginabilis.com.br/artcult/indigena00.htm

TODO DIA ERA DIA DE ÍNDIO

Renato Soares fotos http://www.imaginabilis.com.br
A presença humana no Brasil está documentada num período situado entre 11 e 12 mil anos atrás, datação sempre revista em função de novas descobertas. Estima-se em até 10 milhões de indivíduos, cerca de 1.300 línguas diferentes, em sociedades indígenas à época da chegada dos europeus, exterminadas gradativamente pelo processo de colonização baseado na força e na política de assimilação.
http://www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm#ORIGEMNo

"Alguns anos após a chegada dos europeus ao continente que hoje chamamos de americano, enviaram-se comissões de investigação para pesquisar se os indígenas possuíam ou não alma. Questão essa que só foi resolvida em 1537, quando o Papa Paulo III declarou numa Bula que os indígenas eram entes humanos como os demais homens." Marina Azem
http://www.imaginabilis.com.br

8/03/2006

NOVO MUNDO

"Sobre o mar, Portugal abre todas as velas"..."É o tombo do Globo que se faz pela vez primeira. Suas naus, prenhes de audácia, de cobiça e de aventura, ninam sobre o mar, em seus ventres rotundos, a supergestação de vários novos mundos"
Alberto Ribeiro Lamego, O Homem e o Brejo.


fotografia de Wank Carmo

"Achado e civilizado pelos portugueses, este imenso país foi por eles considerado, desde os primeiros anos, o mundo novo, onde o apostolado e o comércio dariam a Deus e à coroa pingues rendimentos." Pedro Calmon, História do Brasil, volume I.
  • pingue - lucrativo